Descrição
“A festa acabou!”
Assim protestou Epimeteu, exausto de dotar os animais: presas, pelos, velocidade, cascos...
Afoito, distribuiu as qualidades – todas! – antes de chegar ao homem.
Só o homem nasce nu, fraco, desamparado.
Fonte: Protágoras, Platão.
Walmor começa onde Epimeteu termina.
Afrontando leis, povoa os céus de roedores alados.
Rompe algemas, venham donde vierem.
Walmor voa nas asas dos animais inventados.
Movem-se com elegância, olhares indagativos, ágeis, confiantes.
Montados em fios, em antenas, vencem distâncias na velocidade dos meios de comunicação, da luz.
A festa acabou para o homem!
Testemunhos do fim: depósitos de lixo, restos de produtos industrializados, comercializados.
Sonhos de imortalidade – materializados em rochas, mármore, bronze, concreto e aço – viram lixo.
O que somos? Lixo, produtores de lixo.
Vem o artista – mãos aparelhadas de fogo e arte, dádiva de Prometeu – para reinventar o mundo.
Do lixo nasce nova ordem: voar, sonhar, ser.
Esqueçam-se pirâmides, estátuas, fábricas, bombas, naves espaciais.
Esqueçam-se mumificados, marmorizados, bronzificados, maquinizados, militarizados, imperializados...
Esqueça-se o homem atarefado, sem tempo para viver.
A verdade esplenderia em festivos roedores alados?
Estaremos na alvorada do além-homem nietzschiano?
Donaldo Schuller
Porto Alegre, abril de 2010