-
Ter as costas livres – Memória em trânsito: Julia Amaral
- Voltar
Metadados
Nome da exposição
Ter as costas livres - Memória em trânsito: Julia Amaral
Descrição
O humano e o animal: um encontro. O devir do homem à condição animal: uma metamorfose. A degeneração. A finitude. Aquilo que resta. Essas são algumas das questões que percorrem as fotografias e os objetos da exposição Ter as costas livres, de Julia Amaral. Neste dia 17 de junho de 2015, às 19h, a mostra será aberta ao público no Museu Victor Meirelles.
O programa da exposição inclui a “Conversa com a Artista”, que ocorrerá na abertura da exposição, às 18h; e também “A poética da espreita: Julia Amaral”, no dia 14 de julho, às 18h30, um encontro onde será discutida a trajetória da artista assim como os trabalhos presentes na exposição. Os convidados são Edélcio Mostaço, crítico, ensaísta e professor do Curso de Artes Cênicas do Centro de Artes da Udesc e Marina Moros, artista e professora, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina e Pós-Doutora em Antropologia Visual pela mesma universidade.
A exposição Ter as costas livres faz parte do projeto Memória em trânsito que propõe estudar e divulgar as obras dos artistas catarinenses pertencentes ao acervo do Museu Victor Meirelles. Com isso, o Museu visa ampliar o entendimento da poética desses artistas, estimulando a elaboração de outros discursos sobre as obras desses artistas. A primeira exposição do projeto foi “Entorno”, de Fernando Lindote.
Durante a exposição, que estará aberta até o dia 8 de agosto, a obra “Pedras-grito”, 2002, de Julia Amaral, pertencente ao acervo do Museu Victor Meirelles, ocupará o espaço da alcova, que pertence ao núcleo de exposição de longa duração.
Fortuna crítica
“O que temos é a coisa em si, destacada de seu contexto, devolvida à condição de coisa mesma, sem nenhum dos artifícios que a tradição pictórica sugeriu como adequados para minimizar o impacto da brutal realidade do natural. Não há promessa, quimera ou projeto de futuro nesses animais duplamente mortos: mortos antes da arte, mortos depois da arte. Como num catálogo de taxidermia, os bichos estão alinhados como espécimes, como exemplos de formatos e cores, como variações da vida sobre o planeta, engrandecidos pela lente da câmera e, portanto, retirados de sua escala original de grandeza.” (Edélcio Mostaço, Julia Amaral e os oximoros, 2010).
“Um gato doméstico trouxe à casa, entre os dentes, um diminuto anfíbio (um sapo?) que caçou em suas andanças galantes e violentas; dirigiu o olhar para sua dona e depositou o animal diante dos seus pés, empurrando-o para mais próximo dela com a pata. Havia brincado, mas a imobilidade já o desinteressava. A dona recebeu o animal como um presente inadequado, jogou-o no lixo sorrateiramente para que o gato não se ofendesse com o gesto. De um animal para outro.” (Ana Lucia Vilela, Veludo negro ou como ocupar o espaço de um corpo insignificante, 2009)
“Pedras voam, pássaros nunca morrem, cogumelos viram preciosidades. A intervenção da artista sobre as coisas faz com que adquiram nova gravidade ainda que resguardem suas formas e continuem a responder pelos nomes de ‘pedra’, ‘pássaro’ e ‘cogumelo’”. (Fernando Boppré, O peso das coisas, 2007)
“Em seu Abecedário, Deleuze começa falando dos animais, logo na letra A. Diz não gostar da domesticação dos animais, da humanização que se atribui a animais domésticos. De considerar o animal como membro da família. Ele diz ser importante não ter uma relação humana com o animal e sim uma relação animal com o animal. É uma afirmação que Clarice Lispector também faz, quando fala que não humaniza os bichos, e vê isso como uma ofensa. Penso que esse é um ponto chave pras questões que meus trabalhos discutem. Não humanizar animais domésticos é difícil, um gato ou um cachorro. Não humanizar uma pulga, uma barata é mais fácil. A raposa que encontrei morta era do mato, totalmente selvagem. Se perdeu na dimensão grande de água da piscina e acabou caindo e se afogando. Talvez os bichos não tenham medo da morte. Nós, muitas vezes, temos. A leveza do corpo da raposa, da imagem que ficou registrada na fotografia parece sobrenatural. Mas de forma nenhuma é sobrenatural, justamente, ela é uma imagem também selvagem. De um animal para o outro. Deleuze define o animal como o ser à espreita, um ser, fundamentalmente, à espreita. Nunca está tranqüilo. Ele diz que o escritor e o filósofo estão também à espreita. Eu me arrisco a dizer que também os fotógrafos e os artistas.” (Julia Amaral, Bestiário, 2013).
Data de abertura
17 de junho de 2015
Data de fechamento
8 de agosto de 2015