Descrição
Os desenhos de Elke Coelho podem exigir, de alguns de nós, uma pausa antes da fruição. Pois cada um dos desenhos e cada um dos três conjuntos de desenhos apresentados neste momento no Museu Victor Meirelles constituem um corpo delicado de estratégias, como uma conversa em voz baixa, com seu tempo para considerações demoradas e respostas pensadas.
Elke instaura um espaço que supõem algum erro ao leitor apressado. A artista usa modos de representação, soluções gráficas e sistemas de amostragem que podem parecer, para um olhar ansioso e rápido, já conhecidos. Há referências a sínteses conhecidas de objetos cotidianos. Figuras referenciais ou imaginadas convivem em soluções formais que desembocam de vários canais visuais, desde modelos do desenho da tradição recente da arte moderna até resoluções dos modos atuais de animação ou cartum. Esses modelos são consequências de uma busca do meio adequado às questões do trabalho e estão a serviço de uma lógica de raciocínio muito particular. Elke tem algo para nos falar. Porém, esse algo não parece simples de ser colocado. Talvez porque não cessa de mudar enquanto a artista persegue sua manifestação. Fugidio, seu conteúdo não cansa de não ser representado. E a cada tentativa de Elke, ou nossa, que acompanhamos agora essa aventura, aquilo que se manifesta, deriva, abre nova possibilidade de leitura e nos reinscreve em sua pauta.
Os desenhos de Elke Coelho, sob a aparente docilidade de suas formas e medidas, podem constituir armadilhas. Dessas que tanto nos capturam quanto nos abrem os sentidos para o delicado e para o imprescindível. Fernando Lindote