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Noturnas – Alváro Diaz
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Metadados
Nome da exposição
Noturnas - Alváro Diaz
Descrição
Em tempos de “fotografia expandida” (expressão usada pelo fotógrafo Andreas Muller-Pohle e divulgada no Brasil por Arlindo Machado), quando as possibilidades de experimentação são praticamente ilimitadas devido aos atuais equipamentos e softwares de manipulação de imagens, as paisagens noturnas de Álvaro Diaz surpreendem pela aparente economia de recursos usados. Digo aparente, pois Álvaro conhece como poucos os limites de seu equipamento fotográfico e é ciente de que em toda foto estão impressos não apenas um olhar individual, mas também, pelo menos, quinhentos anos de conquistas científicas no campo da física e da química. Ainda assim, em Noturnas, o fotógrafo consegue ser sucinto tanto nas composições quanto na escolha dos materiais e equipamentos utilizados. Ele opta por câmeras de regulagem manual e pelo tradicional filme preto e branco revelado normalmente, conforme (ou quase) a tabela do fabricante. Suas escolhas não são guiadas por nenhuma questão de ortodoxia ou aversão a experimentações, é que para construir sua poética (ou sua versão do mundo), Álvaro simplesmente não precisa mais do que isso.
Lembro-me da obra de Mondrian que, nas palavras de Carlos Zílio, era um “atormentado do infinito” . O pintor, segundo Zílio, a partir de um conjunto finito de regras e elementos (linhas pretas horizontais e verticais formando quadrados e retângulos preenchidos por um determinado conjunto de cores) pôde, até sua morte, em 1943, criar uma obra que aponta, entre outras questões, para a infinitude virtual de combinações destes elementos.
As fotos da exposição Noturnas são o resultado dos movimentos de um homem circulando à noite pelas ruas das duas cidades aonde vive e trabalha (Florianópolis e Lages). Este homem sai armado de uma única câmera (a que estiver disponível), um tipo de lente, um tripé e uma película que reduz as cores aparentes a tons de cinza. Somado a esses elementos, há o acaso. Seria possível prever as consequências da combinação desses ingredientes? Álvaro possui o conhecimento e a liberdade necessários para que o resultado seja inesperado.
Mesmo registrando a luz refletida por objetos urbanos (poste, esquina, portão, placa, porta, barco, prancha, túnel, prédios, etc.), coisas passíveis de serem documentadas, este conjunto de fotos não se caracteriza como um trabalho documental. Ao contrário, surpreende o vazio destas paisagens urbanas que cidade alguma identificam. A porção do real que se destaca em Noturnos é justamente o imaginário do fotógrafo em trânsito pela noite.
Quem o conhece sabe que ele costuma retratar o tempo todo, como se fosse a própria necessidade de respirar, as pessoas com que cruza, principalmente os amigos e a família. O que (ou quem) ele fotografa, então, quando não aponta sua objetiva, aparentemente, para ninguém?
Heloisa Espada é fotógrafa
e mestranda em História da Arte na ECA-USP
Data de abertura
3 de março de 2004
Data de fechamento
18 de abril de 2004
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