Descrição
Utilizando os tradicionais caneta e papel, o desenho de traço fino e
delicado tece estruturas minuciosas, que avançam lentas sobre o espaço do papel. A linha do desenho se constrói por voltas, demarcando o seu generoso tempo de fatura. O trabalho de Malu Saddi toma como desafio perder-se no emaranhado de linhas, a ponto de o desenho indicar uma auto-organização a ser seguida; desenha o desenho.
Visto por fragmentos, o desenho parece derivar dos cantos e sobras de folha, aqueles sem importância que fazemos para “viajar”, enquanto pensamos ou fazemos outras coisas. Ampliados no papel em grande escala (além do corpo da artista), as junções desses fragmentos assumem a aparência de recortes de um universo fantástico e onírico.
O trabalho tem um sentido de coisa que está em dimensão distante ao alcance do olhar, e das coisas que se tornam invisíveis no deslocamento cotidiano. Estruturas que não são suportes para coisa alguma, são desprovidas de qualquer sustentação. A ampliação desses micro-organismos inventados - asas, teias, vegetações etc. - coloca a fragilidade como condição para o movimento da vida e da natureza.
A artista é consciente de que o tempo lento de fatura do trabalho é totalmente contrário à velocidade de produção e consumo de margem na vida cotidiana (pelo acúmulo, desgaste, repetição, duplicação), e aqui deve haver uma imersão no interior da ação da construção do desenho. Os rastros e marcas estão todos lá. Existe uma vontade quase ritualística de desvendar cada um desses fragmentos de mundo que processa no papel. Torna-os preciosos.
O título de um dos trabalhos indica: “preciosos vasos condutores extraídores de vida de uma plumagem já falecida.”
Reginaldo Pereira