Descrição
Floresta.
Ao entrar na floresta queimada a primeira pergunta que me veio foi:
Onde foi parar a seiva das árvores, a resina?
Era muito impressionante o silêncio. Não se ouvia um pio de pássaro, som de sapo, grilo ou qualquer outro animal.
Nenhum som.
Resolvi fazer algumas interferências nessa floresta.
A primeira ação foi pintar alguns troncos com cor e fotografar, para ter uma primeira aproximação. Fiz algumas impressões diretas de troncos cortados de vários lugares fora da floresta e xilogravuras criando grafismos que me remetiam ao veio ou seiva das arvores; às vezes misturando xilogravura com impressão direta.
Uma memória.
Um trabalho em processo.
Foi feito um vídeo da minha ação quando pintava as árvores, por Helenita Peruzzo.
Quando fui convidada pelo Museu Victor Meirelles para realizar essa exposição, partindo da minha obra no seu acervo denominada "fiat lux", lembrei-me de que, na época da execução desse trabalho, o que me interessava era o gesto como uma pulsação do meu ser. A imagem seria definida a partir disto.
Essa questão do gesto vai se ampliando e mudando conforme o trabalho que vou realizando. No trabalho A FLORESTA, nas monotipias o gesto também define a obra, a partir de uma matriz já existente (as árvores cortadas), incluindo marcas da minha mão fazendo o trabalho. A imagem surgindo do passar a mão sobre uma superfície texturada, gravada. Em algumas eu justapus uma xilogravura, cujo gesto vem novamente de uma pulsação e sensação. Nas fotografias busquei uma desfocagem, o sentimento que me trazia aquela floresta, um mundo sem foco meio desmoronando. Senti muita diferença entre o resultado das fotos, bastante estáticas, e a ação que tive ao trabalhar na floresta, bastante intensa e com movimento. O vídeo de Helenita recupera essa ação.
Curadoria e Texto – Flávia Fernandes