-
Espaços em Branco, de Raquel Stolf
- Voltar
Anexos
Metadados
Miniatura
Nome da exposição
Espaços em Branco, de Raquel Stolf
Descrição
Nesta quinta-feira, dia 22 de agosto de 2002, o Museu Victor Meirelles estará abrindo a exposição intitulada Espaços em Branco, da artista Raquel Stolf. A exposição é um evento do Projeto Agenda Cultural do Museu Victor Meirelles, que conta com os imprescindíveis patrocínios da Brasil Telecom e da Caixa Econômica Federal e ainda o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.
Mestre em Artes Visuais (Poéticas Visuais) no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, Porto Alegre/RS e com Licenciatura em Artes Plásticas pela Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, Raquel Stolf é uma investigadora do branco.
“A exposição Espaços em branco compõe-se por proposições artísticas que fazem parte de um processo de pesquisa onde tento investigar o branco enquanto matéria/experiência/conceito através de seu desdobramento nas flutuações branco em branco deu o branco – conceitos investigados em minha pesquisa teórico-prática de mestrado intitulada Espaços em branco: entre vazios de sentido, sentidos de vazio e outros brancos. Busco construir intersecções e/ou relações de estranhamento entre o branco (branco enquanto cheio, que veda, cega e obnubila), o em branco (o branco enquanto vazio, lacuna, subtração) e o deu o branco (o branco enquanto interrupção de sentido, instante suspenso de não-saber, ruído-silêncio). Essa oscilação, trânsito ou mesmo a parada em algum dos brancos, acontece de maneira diferente em cada proposição, na medida em que se entrelaça com o processo de criação, com os diferentes meios e procedimentos plásticos e com o próprio funcionamento de cada trabalho.
Alguns trabalhos que serão expostos utilizam a imagem fotográfica, como esquecimentos (1998-99), interruptor (1999-2000), invisível a ovo nu (1999-2002) e i. a. o. n. (1999-2002), enquanto livro sem sentido (2000-2001), invisível a ovo nu (2000-2001) e plena pausa (2000-2002) trabalham a questão da palavra, do livro de artista e da instalação/ intervenção.
O trabalho invisível a ovo nu é apresentado na forma de quatro pequenas fotografias que foram construídas em 1999, onde resolvo colocar ovos sobre fotografias de um livro de mágicas, mais exatamente sobre as cabeças dos mágicos, refotografando tais montagens. Repito a ideia com três fotos diferentes do livro intitulado Zauberei - Vergnügliche Einsichten in die Welt dês Scheins freundlich eingeleitet von Heinrich Böll . A partir da apropriação das fotografias do livro de mágicas combinadas com ovos, a montagem permanece em processo durante aproximadamente três anos. A primeira montagem foi feita com ovos amarelos (os ovos “disponíveis” no momento, em minha geladeira), sendo que as fotos foram tiradas sobre a mesa da cozinha. Quando a questão do branco despontou em meu processo de criação, opto por esconder a cabeça dos mágicos com ovos brancos. A passagem do ovo amarelo para o ovo branco implica um desaparecimento por aclaramento (mas um aclaramento concreto, opaco, pleno), onde o próprio ovo quase se torna invisível (o ovo branco quase se torna em branco), na medida em que se confunde com um recorte, forma oca que recorta a cabeça do mágico. Assim, os jogos entre mostrar e esconder, apagar e acender, insinuam que branquear e clarear pode ser esconder, pois, a ausência da cabeça do mágico implica a presença do ovo, onde o elemento que esconde é o mesmo que revela. Propõe-se também um jogo de sentidos e não-sentidos entre o nome da proposição e as imagens fotográficas, amplificando o enigma (em) branco. A frase invisível a ovo nu consiste na expressão verbal modificada: a palavra ovo substitui a palavra olho, concatenando uma expressão sem sentido. Trocar olho por ovo implica uma alternância entre ver e não ver, saber e não saber, sugerindo, como escreve Clarice Lispector, no seu conto “O ovo e a galinha”, que “Ver o ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos. Ninguém é capaz de ver o ovo. (...) Como o mundo, o ovo é óbvio. (...) O ovo é uma exteriorização. (...) O ovo expõe. (...) O ovo me vê. (...) O ovo é invisível a olho nu”.
“Já, plena pausa, constitui uma espécie de enciclopédia branca, que surge em 1998 enquanto ideia, durante um processo de pesquisa sobre a palavra e o espaço da página e suas possíveis torções. Somente em 2000 concretizo o projeto, referenciando diretamente o poema Plena Pausa, de Paulo Leminski. Plena pausa consiste em dez livros brancos e em branco com apenas seus nomes gravados em baixo-relevo nas capas-duras, livros de diferentes espessuras que são instalados em bibliotecas públicas e privadas por períodos determinados e/ou indeterminados. Durante a estadia em bibliotecas públicas, os livros ocupam o espaço vazio de outros livros, sendo que quando tais livros retornam às estantes, os volumes brancos são deslocados pelos funcionários da biblioteca para outras prateleiras. Os livros em branco podem ser consultados, manipulados por quem desejar fazê-lo, sendo que, ao instalar os livros brancos nas estantes de livros, cria-se um espaço em branco preenchendo a estante com livros vazios. Tal situação insinua múltiplos sentidos em plena pausa, a começar por sugeri-la enquanto espaço de passagens, onde o branco oscila entre branco como cheio, em branco como vazio e deu o branco como lapso de sentido (a ilegibilidade do branco). Plena pausa insere uma espécie de ruído na estante de livros, um ruído branco, rumor prensado entre o corpo de outros livros, branco acumulado no meio de outros acúmulos. Quanto mais vazio está o livro, quanto mais páginas em branco ele tiver, mais pesado ele é. Insinua-se o peso da não-palavra, o peso do branco, o peso do espaço em branco, o peso do vazio: plena pausa pesa sobre a prateleira de livros ao mesmo tempo em que abre espaço produzindo pressão, tensão e inércia (que gera resistência) nos livros entre os quais se situa. Plena pausa suscita a presença de uma ausência, vazio pleno que instiga a nuvem investigativa branco - em banco - deu o branco.”
Data de abertura
22 de agosto de 2002
Data de fechamento
10 de outubro de 2002
- Obras de Espaços em Branco, de Raquel Stolf
- Ver todas