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Duração, de Tiago Romagnani
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Metadados
Nome da exposição
Duração, de Tiago Romagnani
Descrição
Maquinismos de duração
Das máquinas espera-se que produzam. E quando seus desígnios não são de produção, mas apenas de funcionamento? Funcionar e não produzir. Mas algo resta de seu funcionar: tensão de tempo que não se entrega à cronologia porque repete e ao repetir, difere.
A resistência respira: esfria e retesa, aquece, dilata e pende. Esfria e escurece, aquece incandescente. Desaparece e volta, repete sem fim até que quebra, queima, resiste e repete. Resta da respiração o olho que olha. Resta o olhar emaranhado na repetição que não distingue começo e fim.
Máquina é o desejo de inserir fresta, produzir separação de milímetros entre pedrões de tempo sem memória do costão. Máquina é o som dos atritos, choques, afastamentos. Resta o ouvido que imagina a fricção, tempo que dura a produção de fresta - entrelaçamento de imemorial e fugaz.
Músculo é máquina, contiguidade de engrenagens; emprega força com a finalidade do movimento, esforço de alavanca-máquina para mover o descomunal apenas um pouco no empenho da fresta. Registra-se em fotografia o que pouco se pode ver. Registra-se a intermitência entre escasso afastamento e descomunal esforço.
Máquinas são para mudar a intensidade ou desviar a força; agem por contato e acoplamento; produzem tempo quando funcionam - e por isso repetem - e quando falham; desviam também o tempo, vergam sua intensidade nesse maquinismo em que nada começa e termina, ou melhor, quando começo e fim se desviam um do outro, quando não se sucedem. E o tempo é algo que se come cru; não está nunca pronto.
E tudo que é urgente é registro de persistência.
Vergar o tempo não é dobrá-lo, ou é uma dobra tensa, carregada de força.
Há uma máquina que consiste numa câmara com pedras dentro. O movimento da câmara é circular gerado por engrenagens, mas num modo de lentidão que pouco se dá ao olhar. O movimento acumula-se no tempo, até que, antes da eternidade, pedras tombem sobre outras. Resta a engrenagem.
Máquina produz desvio de escala e, se falha, esse é seu funcionamento.
Homem é resto de máquina e quando a máquina é improdutiva, o tempo que dura é aquele que insiste em não suceder, mas entrelaçar início e fim.
Ana Lucia Vilela
Data de abertura
20 de outubro de 2010
Data de fechamento
2 de novembro de 2010