Descrição
Estação das Linhas - Mover um sonho para um pequeno plano bidimensional sempre foi um desejo que exigiu de artistas e escritores determinadas técnica, às vezes, inventada na urgência do que se estava querendo fazer ver ou ler. Uma estratégia imponderável para captar algo essencialmente transitório, imagens que podem ter se desgarrado de um livro sagrado e queimam, em segundos, em um eletrodoméstico do qual mal conseguem seguir até o olho alvejado. A gravura, por sua vez, é uma prática que resgata a noção do que seja a característica inalienável de uma técnica manual. suas qualidades materiais ficam cintilando com uma franqueza estranha no trabalho pronto. uma evidência ampliada dos componentes como a profundidade de uma linha, a carga de luz do branco, os cinzas, e os preto em suas graduações de amarelo e azul. De outro modo, tudo está invertido, espelhado em uma lógica inconsciente. É, assim, uma sintonia muito rica e, se de algum modo também imprevisível, capaz de armar um campo que atrai e sedimenta a cena mais volátil. Na série apresentada por Dudi Maia Rosa há uma sobreposição de ideias: a possibilidade de que o universo onírico seja captado na lida com um domínio que foi formador e reflete-se amplamente em sua obra - muitas dessas gravuras foram reelaboradas em quadros de grande porte cuja técnica provém, em parte, da própria gravura. são sonhos de fato e algumas cenas bíblicas como que reveladas à luz presente de um televisor. A trama tensa de linhas horizontais que gera a imagem, polui a mesma na medida justa de seu princípio estrutural: o preço a pagar pelo registro de algo dessa natureza. Também pelo fato de que se uma arte mais objetiva aplaina as superfícies ou se encampa por uma máquina, a persistência subjetiva obriga a repetir uma mesma linha durante toda a vida na tentativa de encontrar, ao faze-la, o que é que essa retém de si mesmo. Rafael Vogt Maia Rosa.