Descrição
Entre o espírito e a aparência, o homem se sabe nômade, à cata da imagem inamovível que o signifique. Talvez por isso se fixe em letra, gesto e em máscara, para desafiar a forma frágil que, dia a dia, o desfigura. Seria esse o drama do homem, à cata do papel onde escrever ou encenar sua própria fala? Sair de si seria indício de um olhar além das aparências? A poética visual do César Rossi nasce desse olhar que se alheia (mas não se aliena) e se refina na representação dos destinos fugitivos - ou foragidos - desses homens consumidos que, de tão leves, desaparecem na cegueira da cidade: os catadores de detritos. São eles, homens de papel à margem de todas as narrativas, no reverso daqueles outros, os "homens dos papéis" e a sua cornucópia de ações e de tributos, de cartas de crédito ou de letras de câmbio. Nesse sentido, a xilogravura ou a gravura em metal (ou cobre eletrolítico) servem de suporte às figuras que se repetem, recorrentes, e insinuam, nesse enredo serial, a solidão que os move e, não raro, imobiliza. Mudos e a à margem, aos catadores resta a encenação de um rito que se compões de fragmentos, ou signos que se esfacelem para dizer do nada. Assim, a arte de César Rossi restitui o gesto a esses viventes que, em composições de claro e escuro, encenam o seu drama, em primeiro plano, contra um fundo de texturas e poucos matizes que evidenciam o vácuo de suas vidas - sim, os homens de papel estão no limbo, em contornos fortes e carnações de sépia. Seus espírito e aparência revelam um resto de humanidade. Dennis Radunz (poeta).