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Museu das Vistas, de Carla Zaccagnini
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Metadados
Nome da exposição
Museu das Vistas, de Carla Zaccagnini
Descrição
O Museu das Vistas, idealizado em 2002, foi pensado como um projeto eternamente em progresso, de maneira a constituir, gradualmente e a longo prazo, uma coleção que registre as mudanças que a passagem do tempo e a localização geográfica imprimem no olhar e na representação.
O MdV não é uma coleção de desenhos de paisagem, é uma coleção de maneiras de olhar, de lembrar, de descrever e de desenhar. Pensou-se na paisagem por ser um gênero tradicional da arte, símbolo do empenho no conhecimento (e da crença no domínio) da natureza por meio de sua representação. É necessário, entretanto, ressaltar a diferença que penso existir entre paisagens e vistas. Falar em vistas não somente traz à cena uma palavra importante (e, em parte, é de palavras que se trata aqui), mas também carrega um dado da experiência, uma carga de vivência e um importante enfoque da percepção.
Lembrar de uma vista, resgatar os detalhes da memória, construir mentalmente a imagem dessa paisagem e transformar essa imagem mental em discurso capaz de guiar a mão do outro de forma a reproduzi-la em desenho. Esses passos, por si só, já colocam em discussão questões relativas ao olhar e à representação, como ponto de vista, recorte, enquadramento, planos, foco, perspectiva, etc. O projeto investiga, assim, os processos e procedimentos de construção da imagem.
Trata-se, portanto, de uma dissecção do desenho. O desenho, claro está, como metonímia do fazer artístico, como forma primordial de registro do mundo. É difícil precisar em que ponto do processo se constrói o desenho: na composição da imagem mental feita pelo descritor; no traço do retratista que anota as palavras e atende instruções; na fala e na escuta; ou no planejamento e na proposição desse jogo.
O MdV é também um trabalho sobre a comunicação e seus lapsos, sobre o valor do discurso e sobre a tradução. Sobre possíveis equivalências e distâncias intransponíveis entre experiência e memória, entre texto e imagem, entre fala e traço, entre linguagens. Parte do trabalho está no embate da imagem mental com a imagem construída em grafite e nos recursos verbais de que se pode lançar mão para transmitir ao outro uma imagem de pensamento.
A autoria, o papel do artista e da arte e a função da exposição são repensados. A exposição, por exemplo, deixa de ser o lugar onde se mostra ou se vê o trabalho e passa a ser um campo de coleta de material. Ou o trabalho não é somente a coleção de desenhos mas também o processo de descrição das vistas e de registro dessas descrições. O MdV se refere, ainda, à relação entre original e cópia, já que o museu coleciona as segundas vias dos registros e entrega as primeiras aos descritores que, assim, guardam para si o retrato da vista que escolhem, filtrada por sua memória e suas palavras.
Penso no Museu das Vistas como um projeto de longa duração a ser desenvolvido em muitos lugares e momentos, construindo gradativamente uma coleção, como todo museu faz. Os colaboradores em cada um desses lugares terão permissão para continuar registrando vistas e para escolher um substituto quando decidam se aposentar. Isso criará um sistema autossustentável que, uma vez iniciado, pode funcionar em cada local sem a presença ou a participação da artista, criando raízes em cada um dos lugares onde se estabelece.
Carla Zaccagnini, setembro de 2003
Data de abertura
22 de junho de 2005
Data de fechamento
14 de agosto de 2005
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