Descrição
Yara precisa de água, luz, bichos, sem isso fica doente. Vive em uma casa envidraçada a beira-mar com sua família, cachorros, gatos e os passarinhos e as cobras que a vêm visitar. Suas aquarelas, têmperas e xilogravuras são carregadas de sensorialidade, com imagens da luz espalhando-se pelas folhagens ou desfazendo-se na água em miríades de forma e cor que chegam à abstração. Os textos caleidoscópicos que escreve acompanham os efeitos visuais e remetem, como neste livro, às cenas de Saint-Exupéry, cantigas de infância e lembraças do que foi intensamente vivido. O animal, principalmente o cachorro, é constante no trabalho de Yara, com sinais da sua presença espalhados no entorno - manchas que definem territórios e, por vezes, marcas criando tessituras que prendem o animal ali. Os vazados, que se fazem entrever em jogos de penetrações, levam a contrastes de superficies e matizes, enquanto as caixas, esconderijos de animais e anjos, protegem seus habitantes camuflando-se em cor. Das Caixas é o resultado da habilidade de Yara como gravadora e de seu amor pelos animais. Traz a história de alguns dos bichos que a acompanharam e de cobras que passaram por sua vida, o medo e o fascínio que estas lhe provocaram até descobrir a cobra dentro de si. Trata, enfim, da convivência enrte luzes e sombras, presente em tudo e em cada um de nós. Roberto Cenm. Engenheiro, mestre em artes, produtor cultural do Sesc Pompéia. Outono de 1998.