Descrição
RUY KRONBAUER
O fascínio pelo experimentalismo que os artistas do nosso século instauraram nas artes plásticas ( e em especial pelos processos da collage , frottage, assemblage, da inserção dos "objects trouvés") tornou-se uma das pedras basilares nos caminhos percorridos por Ruy Kronbauer através da pintura e do desenho.
Agregar , sobrepor, colar , raspar , romper regras da pintura bem comportada, inventar e reinventar bem como estar pronto para integrar o acaso na obra, esta é uma dinâmica tão fundamental para o processo artístico de Ruy, quanto o é para a sua existência.
Desde suas primeiras exposições , encontramos esta necessidade em fugir obstinada do discurso tradicional, em transformar o suporte da tela , da madeira, da lona ou do papelão em campo de ação em que é pertinente, um olhar ora mergulhado no interior, deixando fluir energias, ora atento ao exterior, resgatando a possível beleza dos objetos descartados, fragmentados, rotos pelo uso e pelo tempo, inserindo-os na obra e impondo-lhes uma nova estética e um novo significado.
Para tanto, foi preciso resolver as contradições oriundas da junção da variedade de materiais e , em contato com a massa de tinta, mais o gestualismo nervoso, quase caligráfico, como uma linha a costurar os planos da tela, disciplinando-os e criando uma linguagem plástica em que a emoção mantém-se em equilíbrio com a solução estrutural nascida da articulação de contrastes.
Finalmente, nos trabalhos que compõem a presente mostra, Ruy insere, além das imagens provindas de um repertório de referências culturais ( em especial da própria Historia da Arte ), em forma de xerox colado, outros elementos significativos como chaves, evocações de portas, etc..( imagens que enfatizam a existência de uma realidade por detrás da simples aparência das coisas).
Assim, não se trata de ordenar tão somente os elementos expressivos formais, mas também de articulá-los positivamente com uma simbologia que, mesmo quando nos remete a uma individualidade criadora particular, comporta indagações que em ultima essência, são inerentes a própria humanidade. Afinal, os sonhos e o delírios dos outros também nos pertencem.
Jandira Lorenz,
artista plástica, prof. de desenho artístico e história da arte.
Ilha, abril de 1999