Descrição
Quando e onde desta ausência
Não são mais como de outrora, os tempos que hoje inventamos. E não se fala apenas na rapidez das coisas mundanas que muito hoje se faz. É que em nome do tempo, devoramos o espaço ambiente!
À época dos mares tenebrosos, nunca d’antes navegados, quando se revirava o mundo em busca de coisas pequeninas — feito pimenta, noz-moscada, canela, seda — ainda era possível, fisicamente, lançar-se rumo ao desconhecido. Colombo, Sainte-Hilaire, Cabeza de Vaca, Cook, Caboto, Lapérouse: nomes que cintilam no oceano do imaginário sobre as aventuras em mundos novos.
Cenário marinho, desastre em terra.
Uma fragata aproxima-se do centro de Florianópolis e traz consigo navegador anacrônico (nacionalidade desconhecida, supostamente nascido no século XVIII) que ignora os seguintes fatos: a) a cidade não se chama mais Nossa Senhora do Desterro; b) os contornos da vila foram redesenhados pelos aterros viários: onde antes havia mar, agora terra dura, asfalto quente; c) conclusão: assim, desinformado, acaba invadindo o centro histórico com o imenso corpo de sua nau, encalhando-se, solenemente, aos pedaços, defronte à casa onde nasceu o artista Victor Meirelles (1832 – 1903), que abriga hoje Museu que leva seu nome.
O epicentro desse “naufrágio-em-terra” é, portanto, o frágil tecido dessa cidade contemporânea chamada Florianópolis que se fechou para a navegação, continuando ilhada em relação à mobilidade urbana. Paradoxalmente, se quer aberta às viagens turísticas.
Em meio aos fragmentos da embarcação desse navegador desavisado, o público poderá vivenciar trabalhos e programações artísticas especialmente arranjadas para essa exposição. O mar vem até o museu; o museu aproxima-se das bordas d’água. Aqueles que transitam apressados (ou não) pela cidade irão, certamente, deparar-se com outra paisagem, repleta de sentidos, em pleno Largo Victor Meirelles. Basta decidir embarcar.
Fernando Boppré
Vanessa Schultz
Curadores